Um flagrante feito por um motorista de aplicativo que levava passageiros para uma praia que fica há mais de 12 quilômetros do centro de Altamira, sudoeste do Pará. "Quem acha que a vida tá ruim, olha só o cara vem de pé lá da rua para vender picolé no Massanori.", narra o motorista enquanto registrava o trabalhador.
A estrada de chão com muita poeira não é empecilho para o Ronilson que vende picolé para banhistas no Massanori. Mesmo indo a pé, e percorrendo mais de 20 quilômetros com ida e volta, ele garante que a viagem longa compensa porque toda mercadoria é vendida às margens do Xingu.
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"A gente acostuma, sabe? No meio daquela mata andando, às vezes a gente encontra carona, quem vai de caminhonete. Gosto de ir para lá. Ao invés da pessoa roubar, estar andando nas ruas e ganhando dinheiro de forma honesta.", conta o vendedor de picolé, Ronilson Pinheiro.
Quando encontra carona, ele fica menos exposto ao calor que ultrapassa 33 graus. O jornalismo da Vale do Xingu acompanhou um pouco da rotina do trabalhador que sai para vender picolé às nove horas da manhã. O dono da sorveteria diz que Ronilson já conquistou muitos clientes. A força de vontade dele é o que mais chama à atenção.
"Graças a Deus vende bem, um cara muito esforçado.", afirma Alexsandro Silva. "Ele anda bem, ele anda essa Altamira inteira com o carrinho dele.".
"Eles pegam por porcentagem, a gente passa um valor xis para eles e aí acrescentam mais para tirar 40% a 50% de lucro na rua.", explica o dono da sorveteria.
E é assim percorrendo vários quilômetros, enfrentando o sol forte do inverno amazônico, que Ronilson segue para realizar um grande sonho: ter a casa própria mobiliada.
"Ganhar um dinheiro bom para comprar uma casa e colocar as coisas dentro, televisão, geladeira. Por enquanto não tenho nada disso. Uma casa própria, tirar habilitação e comprar uma moto", conta o vendedor.
Quando consegue vender todos os picolés e outros produtos da sorveteria, Ronilson consegue em média de R$ 120,00 a R$ 150,00 reais. Mas quando a clientela não aparece, o valor gira em torno de R$ 50 reais ao dia. Ele mora sozinho, e em uma casa simples, e planeja o futuro.
"Minha mãe sempre me deu conselhos, minha mãe sempre foi evangélica, eu tenho uma bíblia lá em casa e sempre leio.", conta.
Encontramos o motorista que filmou, o profissional que sempre faz corrida para o Massanori. "Eu decidi filmar ele porque é muita coragem, muita força de vontade dele, tá ali naquela estrada, na poeira, sol quente empurrando o carrinho de picolé, naquela distância pra ganhar o pão de cada dia. Muitas das vezes a pessoa tem tudo e não dá valor.", disse o profissional.
Com tanta gente que admira e torce, Ronilson não pensa em desistir da atividade, além de Altamira, já vendeu picolé em Marabá e até Tucuruí.
Agora, nas ruas de Altamira, ele conhece os quatro cantos da cidade, todo dia faz novos amigos e deixa a vida mais leve e até doce, garante ele. E quando pergunto qual sabor sai mais, ele tem na ponta da língua a resposta. "Eu gosto muito de vender picolé, é um trabalho que não queria abandonar nunca. Gosto é de andar.", finaliza Ronilson Pinheiro.