Quem mora na Gleba Assurini, no território de Senador José Porfírio, no sudoeste do Pará, precisa enfrentar vários desafios para deixar a área e seguir até a cidade mais próxima, Altamira.
"A gente está passando de dois em dois meses sem vir na rua, mas o material acaba, coisa de fazer queijo, feira acaba, remédio... O pio de tudo é quando os remédios acabam, porque não tem como você, nem vir nos 4 Bocas para poder comprar remédio. Lá dentro não tem farmácia, não tem medicamento, não tem nada.", relata um morador.
O desabafo angustiado é de uma produtora rural que diz não aguentar mais tanta dificuldade. Ela e a família vivem na Comunidade do Tuna, uma área gigantesca que abriga mais de 20 mil pessoas, divididas entre três territórios.
A Gleba é uma área agrícola, formada por propriedades rurais que garantem o abastecimento de vários produtos na região. O território é dividido entre Altamira, Anapu e Senador José Porfírio. A ponte mostrada na reportagem interliga as propriedades de Senador a Altamira, e sem ter esse acesso eles precisam improvisar.
Em um vídeo o produtor de bananas arrisca toda a produção e tenta passar de carro pelo rio, e depois ainda precisa subir uma ladeira. Mas quem não tem coragem de ir pelo rio tenta passar por dentro de propriedades particulares.
"Por essa área que eles estão arrodeando, se aventurando, um boi correu atrás da gente. Tinham dois bois brigando e correu atrás da gente, boi brabo, boi valente. Sim, é área privada, eu sei que é área privada, mas a gente tentou arrodear para ver se ficava melhor, para poder passar com criança doente. Corremos risco, eu, meu esposo e meu pequeno que tem 6 anos.", relata uma moradora.
Por ficar bem entre dois territórios, existe um conflito sobre a responsabilidade na recuperação das pontes naquela região. Em nota, a assessoria de comunicação de Senador José Porfírio informou que busca recursos para recuperar essa ponte e outras 16 na região, e destacou que a ponte citada na reportagem estava em perfeitas condições, mas foi danificada em um ato de vandalismo por pessoas desconhecidas para prejudicar as operações do Ibama na região.
Várias pontes foram incendiadas ou tiveram suas estruturas danificadas após o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) iniciar o processo de retirada de gado de dentro da Terra Indígena Ituna Itatá. Mais de 6 mil cabeças de gado foram criadas ilegalmente na região e após determinação da Justiça.
Os animais começaram a ser retirados pelo Ibama, com apoio da Polícia Federal (PF), Polícia Rodoviária Federal (PRF), Força Nacional (FN) e Agência de Defesa Agropecuária do Pará (ADEPARÁ).
Os atos de vandalismo contra as pontes estão sendo investigados, e após decisão do Ministério da Justiça, agentes da Força Nacional foram designados para atuar na região por 90 dias. A prefeitura de Altamira vem recuperando as pontes que ficam em seu território e foram alvos dos atentados.