"A sensação, hoje, é de que nós não estamos esquecidas. Ser acolhida, como fomos com essa ação, é muito importante para todas nós. É tão bom saber que, mesmo que eu tenha errado, ainda existem pessoas que se importam comigo e acreditam na minha mudança. E é isso que me fortalece". As palavras da custodiada M.J. expressam sua gratidão à iniciativa da Secretaria de Estado das Mulheres (Semu), realizada nesta terça-feira (02), destinada a internas da Unidade de Custódia e Reinserção Social de Ananindeua, na Região Metropolitana de Belém.
A programação levou à unidade vários serviços, como atendimento médico, corte de cabelo, emissão de documento, acolhimento e conscientização, por meio de palestras sobre construção de uma autoestima positiva, desenvolvimento de atitude resiliente e incentivo à autonomia econômica. "Há mais de dois anos eu estava sem identidade, e hoje consegui emitir o meu RG. Esse documento é fundamental na garantia dos meus direitos. Achei tudo muito maravilhoso hoje", disse M.J., após receber o documento.
"Sala da beleza"- Recuperar a autoestima é importante para as custodiadas enfrentarem a rotina do regime fechado. Essa constatação levou a cabeleireira Marli Barbosa a se tornar voluntária no esforço de melhorar a autoestima de cada mulher que passou pela "sala da beleza", em busca de um novo corte de cabelo.
"Essa é a primeira vez que trabalho como voluntária. Nós, como mulheres, sabemos a importância de um corte de cabelo, ou até mesmo de limpar as sobrancelhas. Faz uma diferença muito grande na nossa autoestima. Saber que eu posso contribuir para melhorar a vida delas um pouquinho me deixa muito emocionada", disse Marli Barbosa.
Longe de casa há 10 anos, a custodiada C.M. entende que essa programação contribui para a melhoria da convivência entre elas, além de fortalecer emocionalmente as mulheres. "Esse tipo de ação vem para atender às nossas necessidades. Nós precisamos sempre falar e conversar com outras pessoas; precisamos desse apoio. Espero que isso sirva de incentivo para que outros órgãos também se prontifiquem a cuidar da população carcerária", reforçou a interna.
Segundo Natasha Ferraz, psicóloga da Semu, "elas também perceberam o espaço da roda de conversa, por exemplo, como a oportunidade para a reflexão sobre o processo de ressignificação das experiências dentro do cárcere, visando ao planejamento a médio e longo prazo de seus projetos de vida".
"A ação realizada pela Semu tem significado e representação social. O cárcere marca a ruptura das relações sociais, fragiliza laços familiares, obriga ao distanciamento dos filhos, potencializa o medo, a ansiedade e a rejeição. Assim, Secretaria reconhece a importância de aumentar as oportunidades de inclusão social de mulheres em situação de cárcere", ressaltou Clarice Leonel, diretora de Políticas para Mulheres da Semu.