Com o desaparecimento do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips, uma onda de posts tomou as redes sociais para chamar a atenção para a impunidade nos casos de assassinatos de ativistas nas terras amazônicas brasileiras. Até celebridades como a cantora Anitta relembraram a trágica morte da missionária americana Dorothy Stang.
O crime aconteceu em 2005 no município de Anapu, no Pará. Seus executores estavam a mando do fazendeiro Regivaldo Pereira Galvão, conhecido como "Taradão", que pretendia eliminar um dos grandes nomes na mediação de conflitos agrários. Stang sempre agiu na defesa dos trabalhadores rurais sem terra no estado.
Quem foi Dorothy Stang e o que ela fazia no Brasil Nascida em 1931 no estado de Ohio, a irmã Dorothy, como era conhecida, chegou ao Brasil em 1966, inicialmente para atuar na cidade de Coroatá, no Maranhão. Na década de 1970, a missionária migrou para a região do Xingu, na Amazônia, na época da inauguração da rodovia Transamazônica.
Desde sua chegada à Amazônia, Dorothy dedicou-se a defender o direito à terra para camponeses e à criação de projetos de proteção da floresta, agindo junto à população e ao governo. Sua atividade pastoral incluía também a geração de emprego e renda com projetos de reflorestamento em áreas degradadas, além da minimização dos conflitos fundiários na Região.
Segundo pesquisadores, todo o conflito começou quando o governo militar passou a distribuir terras públicas às margens da rodovia recém-inaugurada. Em alguns pontos ao longo da Transamazônica, houve apoio à instalação de pequenos agricultores. Mas na região de Anapu, o governo militar privilegiou fazendeiros e empresários do setor de madeira.
Eles deveriam manter as terras públicas produtivas em troca do documento de posse. A maioria dos fazendeiros, no entanto, extraiu os recursos naturais desses pedaços de terra e depois abandonou ou repassou a terceiros. Essa situação acirrou as disputas por hectares na região de Anapu, envolvendo especialmente os lotes 39, 41, 96 e 97 da Gleb39, 41, 96 e 97 da Gleba Bacajá.
Nesse cenário, pequenos agricultores começaram a reivindicar terras na região. Foi quando, em 1997, Dorothy Stang decidiu organizá-los politicamente em assentamentos, para que conseguissem obter a posse de duas grandes áreas. No modelo idealizado por Dorothy, havia também a proposta de conservação da natureza no entorno. Por isso, o modelo ficou batizado como Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS).
Dorothy foi uma das primeiras pessoas a defender publicamente que as terras públicas deveriam ser destinadas à reforma agrária. Em 2002, o governo federal passou a reconhecer alguns direitos dos pequenos agricultores, criando oficialmente dois PDS's: o Esperança e o Virola-Jatobá.
Neles, cada família teria direito a 20 hectares de terra e o resto do território seria destinado a uso coletivo, desde que a mata permanecesse preservada. Madeireiros e pecuaristas não aceitaram a criação das unidades e continuaram agindo nessas terras, ameaçando as famílias. Foi nesse cenário que organizaram uma emboscada para a Irmã Dorothy.
No dia 12 de fevereiro de 2005, aos 73 anos, a missionária levou seis tiros em uma estrada rural dentro do PDS Esperança. Investigações apontaram que a morte foi encomendada por fazendeiros que reivindicavam áreas que poderiam ser incorporadas pelo PDS Esperança. Cinco acusados pelo crime foram condenados.
Desde então, Anapu jamais deixou de registrar episódios de violência desse tipo. Segundo a Comissão Pastoral da Terra (CPT), de lá para cá, pelo menos 22 pessoas foram mortas no município em casos relacionados a disputas por terra.
Dorothy Stang tornou-se uma das principais líderes dos Projetos de Desenvolvimento Sustentável e até hoje é um marco na luta ambiental no Brasil. O seu legado de luta e justiça pela terra aos pequenos agricultores permanece vivo até hoje. O corpo da missionária está enterrado em Anapu.
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